5 de fev. de 2012

Romance à moda muito antiga

Com um tacape, um dos Cabelo-duro ia varrendo a terra, preparando para a grande festividade da noite. Varrer a terra não é algo muito produtivo, ainda mais com um tacape, então logo se irritou, parou de varrer e começou a bater no chão com ele. A poeira levantou, e um outro Cabelo-duro veio correndo e gritando: 

- Ahhh! Meteoro caiu?! Era Glacial, uga?! 

- É... – começou o outro – Quase isso, buga. 

Os batuqueiros já se achegavam, os braseiros também. Hoje era um dia especial, dia de mamute na brasa, iguaria rara. Era muito mais comum os mamutes comerem purê de homens, mas isso só até descobrirem as batatas. 

Os convidados já haviam chegado, quase todos pelo menos, e Tacapuleto os recebia efusivamente: 

- Bem-vindos, todos! Teremos comida a dar com pau! Mas lembrem-se, isto é só uma expressão, guardem os tacapes. Você ai na tora cinco, achei que os dinossauros estavam extintos! Ah, sua mulher? É uma raridade de mulher, MESMO! Acho que já falei mais do que um papagaiossauro carnívoro, não? É uma festa, meus amigos, comam, dancem, e deixe a bebida comigo! 

Os batucadores começaram as batucadas e a batida foi arrebatando a todos. A Bat Macumba ê ê Bat Macumba obá já esta nos pés de quase todos. Tacapuleto não estava no todos, estava no quase. Ele estava sentado na sua tora pensando consigo mesmo sobre a festa. Ele não se lembrava da última vez que tivera uma festa assim, com mamute na brasa, na verdade, não se lembrava nem em que caverna morava, só lembrava onde estava seu copo, e é o que basta! 

Enquanto isso, o jovem Montedestrum estava servindo-se de um belo pedaço de carne, quando do outro lado da fogueira avistou uma jovem de cabeleira peculiar. Seus cabelos eram diferentes dos outros daquela tribo, pareciam amarrados, mas eram soltos; eram duros, mas maleáveis. Sentiu uma vontade enorme de acertá-la com seu tacape e puxá-la pelos cabelos. 

- Que cabelo mais uga é esse? – indagou em voz alta. 

- Rastafari – respondeu o braseiro – é a novidade que uma prima trouxe, uga bonga. 

- Parecem tão firmes quanto cipó– continuou enquanto tentava limpar o rosto sujo de mamute -, mais firmes do que os cipós da Floresta dos Cipós firmes, talvez até mais que os da Floresta do Cipós mais firmes, e ainda me atreveria a dizer que até mais que os da Floresta dos Cipós realmente firmes. 

Ao lado de Tacapuleto estava Bideobaldo olhando fixamente para Robeu. Conseguia sentir dali que Robeu era de outra tribo, a dos Cherodsubako. Não era muito difícil deduzir isso, até mesmo um gambá das savanas poderia sentir o inconfundível odor, ainda mais se fosse de um Montedestrum. 

Os Cabelo-duro e os Cherodsubako eram inimigos mortais, uma briga de patentes iniciada há muitos anos. Os Cabelo-duro uma vez descobriram um certo frasco de substância de cheiro agradabilíssimo dentro de uma pedra, um tal de Axe; já os Cherodsubako estavam situados próximos a uma plantação de babosa, por isso todos tinham seus cabelos lindos e sedosos. Não se sabe bem quem começou a guerra, mas sabe-se que nenhuma das tribos quer ceder primeiro. Mas mesmo com a inimizade mortal, eles não se matavam, repudiavam ao máximo essas práticas primitivas de homo erectus. Os chefes das tribos Cabelo-duro e Cherodsubako eram as famílias Tacapuleto e Montedestrum, respectivamente. 

Robeu era um jovem promissor de educação única, via-se isso por ele ser o único da festa que tentava limpar o rosto sujo de mamute, e mesmo Tacapuleto sabia disso. E por saber disso o tolerava na festividade. Era melhor tolerar o jovem do que provocar uma guerra com os Cherodsubako. A guerra só iria ocorrer 43 anos depois, com o advento do pregador. 

Bideobaldo esbravejou: 

- Montedestrum... Seu lugar não é aqui! 

- É meu convidado, assim como você, assim como todos aqui. Meus amigos! Eu amo você... – Falou Tacapuleto, que ainda arrematou – Se não gosta, pode morder a testa, ele fica na festa – Tacapuleto nesse momento inventara a rima. 

- Vou para minha caverna, não suporto mais ficar aqui com um Montedestrum. E Bideobaldo saiu, quase chorando. Tinha nariz muito sensível, não suportava grandes fedores. Uma vez quase cometera suicídio por acidente após uma refeição de repolho com batata doce. 

Robeu se aproximava da garota. Não a conhecia, nunca vira nada como ela, com aqueles cabelos. Também não a via muito, os cabelos cobriam-lhe a cara. Ele ia abrindo passagem pela multidão até ela, até alcançá-la e dizer: 

- Bonito cabelo. “Bonito cabelo?!” ,pensava, “grande buga bonga você disse”. E em meio ao seu açoite mental percebera que a garota sorria, sim, ainda tinha esperança! Então perguntaria se um tacape já lhe passara pela cabeça. 

- Não... – respondeu Rubieta com um sorriso. 

- Mas uma mão poderia passar – Disse com um tom de vitória enquanto tocava seus cabelos. Tocar nos cabelos, para os homens das cavernas, era como dar um beijo nos lábios, e um beijo nos lábios era canibalismo e punível pela lei. 

Um momento de silêncio pairou, e durante esse tempo Rubieta tentava reconhecer que era o rapaz tão audacioso, tão odoroso e tão cheio de mamute no rosto. Tentava reconhecer, mas não com tanta força, aproveitava-se do momento que já tinha passado, era uma festa familiar afinal. Foi quando uma senhora de cabelos loiros chegou e puxando-lhe pelo braço disse: 

- Venha Rubieta, sua mãe quer falar com você, uga. 

- Sim, Hebe. 

Rubieta? Não! É uma Tacapuleto! Robeu estava atordoado e apaixonado, por uma Tacapuleto. 

- Quem será ele? 

- É um Montedestrum, Rubieta. Não reconheceu o bonga cheiro? Pela idade diria que é Robeu, buga. 

Rubieta não acreditava, um estranho de toque tão leve e de odor tão peculiar, uma paixão tão apaixonante, logo um Cherodsubako, e ainda pior, um Montedestrum.

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